Juiz de Fora

domingo, 26 de janeiro de 2014

Filme brasileiro? Só mesmo de graça, na tv. (351)



Cidade Baixa
(2005)

O quatrilho, Carlota Joaquina, e Tropa de Elite 1 e 2, salvo falha de memória foram as únicas vezes que dei dinheiro para esta coisa que se chama cinema brasileiro (diga-se de passagem, acertei em cheio). Fora estas ocasiões, deixo para vê-los na tv, porque o cinema nacional é uma subsidiária da tv nacional. Somente assisti este filme por causa dos atores, Wagner Moura em particular. O tema é veeeeelho, surraaaado, triângulo amoroso entre pobres. O que mais me entristece é que filmes nacionais costumam receber dinheiro público, que desperdício.

sábado, 25 de janeiro de 2014

T.V. Glotzer (36)



Breaking Bad - Quinta temporada
(2012/3)

Basicamente, Breaking Bad narra os anos finais da vida de Walter White, um brilhante químico da cidade de Albuquerque (Novo México) que descobre estar no estágio intermediário de câncer no pulmão, e quer deixar a família - a esposa dona-de-casa grávida e o filho adolescente portador de paralisia - amparada por uma fortuna que ele calcula ser em torno de 737 mil dólares. Para obter este valor Walt se torna um exímio produtor de metanfetaminas e sua vida e de seus familiares se complica à medida que o seu poder e sucesso aumentam.

Assisti as duas caixas finais com dezessete episódios em dois dias (férias para que te quero). Gostaria que não fosse a temporada final, poderia ter durado mais umas três temporadas. Só tenho elogios. Elenco quase desconhecido e brilhante. Trama realista e inteligente. Drama humano com riqueza de sutilezas. Reviravoltas verossímeis e soluções viáveis. De todas as séries de tv que acompanhei Breaking Bad tem o mesmo grau de densidade de House e The Wire.

Espero que a dublagem na tv não prejudique o espectador, as vozes de Walter White (Brian Cranston) e Jesse Pinkman (Aaron Paul) são indissociáveis das personagens.


                                                 Brian Cranston e Aaron Paul, impecáveis.

Longa vida a Scorsese e Di Caprio (350)



O lobo de Wall street
(2013)


Jordan Belfort é um novaiorquino que entrou para o mercado de ações muito jovem e trabalhando para uns sujeitinhos meio...escrotos. Perdeu o emprego na queda da Bolsa de Nova York em 1987, foi para um subúrbio de Long Island (NY) e começou a trapacear vendendo ações fajutas de micro-empresas para pessoas pobres, desinformadas e sonhando em faturar alto e rápido. Conheceu um bando de malucos e manés dispostos a passar a perna em todos com especulação financeira. Ganhou muito dinheiro rapidamente e gastou com drogas, orgias e bens de luxo. Por excesso de confiança conseguiu ser preso. Bom, acredito que todos que leram um pouco sobre este filme já estão a par de seu enredo.


Vou opinar sobre o que é mais polêmico: a) quanto ao filme em si: excelente direção de Martin Scorsese (que os deuses do cinema lhe deem longa vida e próspera), que prazer para o fã de cinema quando um diretor tem oportunidade de fazer o que quer; b) quanto aos atores: Leonardo DiCaprio deu um show, ele é ótimo, merece esta bobagem de Oscar, é muito talentoso, ainda vai render muitos filmes. Jonah Hill que faz Donnie, o braço direito gay e inconsequente de Belfort é um achado, o ator realmente parece ser o seu personagem, incrivelmente autêntico. As rápidas aparições de Mathew MacConaughey e Jean Dujardin são bem marcantes (há uma referência sensacional ao filme mudo O artista que levou o ator francês ao estrelato, por meio de um "diálogo" mudo entre Belfort e um banqueiro suíço).


c) O filme é muito divertido, é mais uma comédia do que um drama, somente adolescentes e pessoas que raramente assistem filmes vão se cansar com as três horas de duração; d) O filme não glamuriza os vigaristas, pelo contrário, ele deixa claro por a mais b que se tratam de pilantras capitalistas passando a perna em seus clientes de forma acintosa; e) Belfort é tratado como um pastor e sua igreja evangélica são os seus próprios sócios e empregados que vibram com as suas performances e seus milagres de multiplicação do pão; f) as cenas de sexo, drogas e palavrões a rodo estão dentro do contexto da narrativa, é um filme moralista, Scorsese aqui bancou o Nelson Rodrigues, associa os crimes do colarinho branco com luxúria e vício; g) o filme não insulta a inteligência de ninguém, ele deixa claro o que todo mundo já sabe: o sistema financeiro é basicamente uma estrutura complexa para tirar dos pobres e dar muito aos já muito ricos, e aquele que opta pelo caminho da retidão (o agente do FBI que investiga e prende o protagonista) não vai ganhar medalhas, não vai receber gratidão da sociedade, vai mesmo de metrô, solitário e triste para casa. h) há o recurso clássico do teatro grego: o filme leva o espectador a torcer pelas espertezas de Belfort, até o momento ducha de água fria, pois a vítima pode ser você, "otário", já quis ganhar dinheiro com a Bolsa?, que tal as suas ações da Petrobrás?!

O braço direito Donnie e Belfort


Em O lobo de Wall street duas coisas estão nuas, mais do que as periguetes (muitas) do filme: o capitalismo e o que você vai fazer da sua vida.


Jordan Belfort, idêntico ao Leonardo Di Caprio, não é?

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Um Fassbinder que não é lento (349)



O desespero de Veronika Voss
(1982)


Alemanha Ocidental, 1955. Veronika Voss é uma atriz fora do mercado e que vive do passado (imediatamente pensamos em O crepúsculo dos deuses) e se encontra meio fora de foco. Andando à noite sozinha pela rua, com muita chuva, é protegida por um jornalista de esportes que não lhe reconhece de imediato. A atriz fica empolgada com aquele que lhe viu como pessoa, não como símbolo, e passa a tentar seduzi-lo e manipulá-lo. Voss é alcoólatra, dependente de remédios e mantém uma postura de diva diante de todos, o que a torna cada vez mais frágil e patética.


Todo mundo sabe que Fassbinder foi um cineasta de primeira e vale a pena tentar assistir as treze horas de Berlin Alexanderplatz, o seu clássico. Mas é daqueles cineastas que usam do tempo para condensar o que fala, quase como Bergman (mas bem menos que Tarkovski, não se preocupe). Este é o penúltimo filme do cineasta alemão, morto por overdose de heroína em 1982. Preto e branco, com cortes no estilo dos filmes mudos, tem um enredo plausível e interessante.Ao mesmo tempo que chama os artistas de estúpidos, preguiçosos e outros pejorativos, também apresenta um quadro em que, de certa forma, a sociedade meio que celebra a sua decadência. Veronika Voss fez da sua própria o último filme.


segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Lars von Trier não consegue absolver Medeia (348)


Medeia
(1987)


Não vou aqui contar o mito de Medeia, deixo o prazer desta pesquisa para o (a) leitor (a). Conheci-o há décadas na sua conclusão aterradora: traída pelo marido Jasão, Medeia mata os filhos do casal. A estória é bem mais complexa, Jasão não é tão santo e Medeia poderia alegar em sua defesa os diversos sacrifícios pessoais e gravíssimos crimes que praticou por seu amor por Jasão. Imaginei que Lars von Trier fosse tentar olhar o mito com as razões da infanticida. Não deu outra. Medeia, tadinha, sofre muito ao matar os filhos que "ama". Não cola. 


No entanto, é um senhor filme. Que fotografia, camadas de penumbras e tecidos compondo um drama no mínimo barroco, um ambiente tenso, diálogos inteligentes, falas mais dramáticas do que no original de Eurípedes (apresentado em Atenas, em 431 a.C., obtendo o terceiro lugar). Dos filmes do dinamarquês Lars von Trier é o meu segundo predileto, atrás apenas de Melancholia.


O Panótico vê um filme turco que não é totalmente deprimente. (348)


Can
(2013)




Cemal é um operário estéril.de Istambul  Querendo um filho, inclusive por temer sofrer bullying sobre sua sexualidade, resolve, sem a concordância da esposa Ayse, fazer uma adoção ilegal. Ayse é uma dona de casa cujo rosto é a expressão permanente de infelicidade, ressentimentos, opressão, ignorância, baixa auto-estima... Cemal fica todo empolgado com o bebê, mas Ayse só lhe sente repulsa.

Por meio de flashbacks vemos o pequeno Can sentado sozinho em uma praça, enquanto sua mãe Ayse trabalha como servente em um restaurante. Sentimo-nos como o aposentado que se preocupa como é possível uma criança passar todas as manhãs sem a companhia de adultos, sem amparo.

Quase todo filme turco que eu vejo é muito para baixo, o que já fez com que eu desistisse de alguns. Com certeza tem a ver com a situação política do país, que mais se parece com uma ditadura do que uma democracia. Neste aqui pelo menos temos empatia pelo garoto, ou pelo pai ou pela mãe conforme cada um se sensibiliza pelos problemas de gênero.

Maratona Woody Allen (5) (347)



Cenas de um shopping
(1991)


Nick (Woody Allen) é um advogado que trabalha para clubes esportivos, casado com Deborah, psicanalista e consultora afetiva (?) (Bette Midler), pais de dois adolescentes e moradores de Los Angeles. Enquanto os filhos vão esquiar, o casal quer comemorar os quinze anos de casório. Deborah lança um livro sobre como ser feliz no casamento e Woody resolve revelar que possui um amante. A partir daí, os dois vão discutir, revelar, romper e reconciliar por diversas vezes.


Este filme não foi dirigido por Woody Allen (Paul Mazursky). O novaiorquino debocha claramente dos jecas ricos bem-sucedidos da costa oeste, a começar pelo rabinho de cavalo e pela prancha de surfe, quase tudo é anti-Woody Allen, com exceção da eterna insatisfação e infidelidade do protagonista. O mímico que acompanha todo o filme não sei se representa algum corifeu a deixar claro que tudo o que sai da boca do casal é mentira, ou "racionalização". Para quem acredita em casamento e toda esta bobagem de "literatura" conjugal é uma boa dica. Casamento é uma instituição fadada ao insucesso.

sábado, 18 de janeiro de 2014

Maratona Woody Allen (4) (346)


Simplesmente Alice
(1990)




Alice (Mia Farrow) é uma dona-de-casa "exemplar" e casada com um burguês discreto (William Hurt) e bergmaniano (gentil, polido, zeloso dos deveres domésticos, mas sem paixão, quase oco). A vida Alice consiste em cuidar da casa, dos filhos menores e gastar. Não é uma mulher fútil, perversa e sádica como as burguesas de filmes latino-americanos, lembra mais alguém que se adapta ao ideal de esposa padrão, algo que remonta aos anos cinquenta. Mas Alice está estressada, sente atração por um músico (Joe Mantegna) pai de uma aluna da escola de seus filhos, e acredita que sofre de dores na coluna. Por sugestão de uma amiga ela vai até Chinatown se consultar com um médico chinês especializado em ervas. O médico a hipnotiza, identifica a origem dos males, e lhe fornece as tais ervas. Alice agora vai romper limites.

O tema deste filme de Woody Allen é bastante conhecido: vive-se uma vida vazia, sem sentido, mais cedo ou mais tarde a maioria das pessoas vai pelo menos desconfiar que não encontrou a felicidade naquilo que lhe prometeram (no caso da universalidade feminina, um bom casório). Não cheguei a nutrir muita simpatia pela "pobre" dona-de casa rica, o mais interessante é o médico chinês, tratado como um sábio (um clichê que remonta aos hippies, ocidentais em crise? Go east).

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Maratona Woody Allen (3) (345)


Oedipus wrecks (New York stories)
(1988)


Contos de Nova York reúne três estórias dirigidas por Scorcese, Coppola e Allen. A primeira é um clichê: artista cinquentão pirado que usa "pupilas" jovens como amante iludindo-as - ou não - como se fossem também artistas (isto também ocorre no mundo acadêmico). A segunda é uma tediosa estorinha sobre garotinha encantadora multimilionária e seu pobre mundo (pouco vi mais que cinco minutos, detestei).


E vamos ao que interessa. Sheldon, advogado quarentão judeu (Woody Allen) não aguenta mais o domínio de sua mãe sobre sua vida, e quer que ela desapareça ou cesse de interferir na sua vida afetiva. O (a) leitor (a) reconhecerá a vossa querida mamãe (a minha também é semelhante), titia ou vovó na personagem cômica que conta para qualquer um, literalmente, todas as censuras sobre o seu filho. Aqui abaixo ela paira sobre Nova York e inferniza a vida de Sheldon. Excelente, ri de montão.


quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Maratona Woody Allen (2) (344)


A outra
(1988)



Marion, uma muito bem-sucedida e confiante professora de Filosofia em Nova York (Gena Rowlands) aluga um apartamento para poder ter sossego para escrever um novo livro acadêmico (já pensou?). Por meio de uma passagem de ar em uma parede, ela ouve a conversa no apartamento ao lado, que serve de consultório psicanalítico, e se interessa pela fala angustiada de uma mulher que descobre o fim de seu casamento mas tem medo de ir adiante na vida (Mia Farrow).


A protagonista passa então a rever os seus relacionamentos: o primeiro marido, o último amante, o pai severo e cheia de cobranças para com a família, o irmão "perdedor", a amiga "inferiorizada". Gradativamente ela nos (e se) revela uma sanguessuga, alguém que não construiu nada sólido e vendeu o próprio sucesso para os mais próximos.


Eu pensava que Interiores e Setembro eram os dois filmes bergmanianos de Allen, mas este aqui me parece o melhor deles (a fotografia, por sinal, é de Sven Nikvist), é um filme que mergulha fundo na condição humana, mas não tem a lentidão dos filmes do cineasta sueco que pode afastar parte dos fãs de cinema. Qualquer dia destes vou ver novamente.


Spoiler (não leia se não quer saber uma cena do filme): A filósofa se encontra por acaso com uma amigona de juventude de solteira que agora está casada, e os três vão para um bar (a contragosto da amiga, temerosa da conduta de Marion). Lá a protagonista encanta o marido da outra por meio de sua superioridade intelectual. A amiga não deixa por menos e dá uma senhora espinafrada em Marion, tornando evidente a sua postura predatória, vampiresca. Foi a primeira vez na vida que dei razão ao ressentimento do "simplório" contra alguém intelectualmente mais sofisticado, digamos assim.

Não há trem de Berna para Lisboa mas viaje assim mesmo (343)


Trem noturno para Lisboa
(2013)


Um professor secundarista de Berna, Suíça, (Jeremy Irons) evita o suicídio de uma jovem. Com ela encontra um livro de poesia de um jovem português e uma passagem para Lisboa. Ele decide tomar o trem e quer conhecer a história do poeta, fascinado com o que escreveu. Em Lisboa, enquanto corre o risco de perder o emprego, ele toma contato com a vida do poeta e médico Amadeu, filho de juiz na Portugal salazarista. Conhece a irmã do poeta (Charlotte Rampling) e a luta da amante Estefânia (Mélanie Laurent e Lena Olin), do amigo Jorge (Augusto Diehl e Bruno Ganz) e é ciceroneado pela sobrinha (Martina Gedeck) de um militante contra a ditadura Salazar.


Este é um filme que me ganhou fácil. Berna é linda, mas foi emocionante rever Lisboa, esta cidade que me encantou (www.enaldoviajando.blogspot.com.br), particularmente as regiões históricas da Baixa, Chiado e Alfama. O filme faz jus à cidade, ainda que carregue um pouco no arcaico. Não há trem de Berna para Lisboa (de carro dariam cerca de vinte horas de viagem), e as linhas da estação de Rossio exibida no filme levam apenas até Sintra, município vizinho à capital portuguesa. Mas não importa. O leque de atores é o que há: Bruno Ganz (o Hitler de A queda), Augusto Diehl (o major bom de ouvido para sotaques de Bastardos Inglórios), Mélanie Laurent (a Shoshanna de Bastardos Inglórios), Martina Gedeck (Ulrich de O Complexo Baader-Meinhof) e outros.


O protagonista Amadeu era um jovem de princípios e filho de um juiz distante e temente à Salazar. O seu melhor amigo, Jorge, é de origem humilde e se enfronhou na Resistência. Amadeu fica dividido entre a medicina e a militância, e busca na poesia um meio de expressão para suas angústias. Paralelamente, se apaixona pela amante de Jorge, uma militante. O professor suíço ao mexer no passado dolorido dos portugueses vai buscando um sentido para sua vida na disciplinada Suíça.

 No início quase não reconheci a atriz, menos glamourosa do que nos filmes anteriores.

 Amadeu e seu melhor amigo Jorge.


 A travessia do Tejo para Almada (eu fui, rs...)


Jorge, farmacêutico e idoso, não quer falar sobre o passado.


Este é um filme que tem tudo para cair no gosto de um certo tipo de público. Não é nenhuma obra-prima, e críticos mais exigentes podem achá-lo meio apelativo, com uma filosofia não muito consistente, mas não deixe de vê-lo (e não deixe de conhecer Lisboa se tiver oportunidade)

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Maratona Woody Allen (342)



Testa de ferro por acaso
(1976)


Nova York, anos cinquenta. Howard (Woody Allen) é caixa de um restaurante e agente de apostas (ilegal). Um amigo seu de infância - Alfred - é roteirista de tv, mas por ser simpatizante do Partido Comunista encontra-se na lista negra do Comitê de Atividades Antiamericanas e perde o seu emprego. Alfred propõe a Howard que assine os seus roteiros em seu lugar e lhe dará dez por cento do que o canal de tv lhe pagaria. Endividado e querendo fazer um favor ao amigo, Howard entra nesta. Os roteiros para os programas de tv são bem sucedidos, e a empresa, assim como os macartistas, querem saber quem é este desconhecido Howard, que, na realidade, não sabe escrever coisa alguma e sequer possui uma cultura razoável.


Um membro do comitê chantageia um ator que está na lista negra: se o mesmo conseguir denunciar outros comunistas e simpatizantes poderá ter o seu emprego na tv de volta, e o induz a ficar na cola da nova estrela, Howard. Paralelamente, Howard expande as suas atividades e passa a assinar os roteiros de outros roteiristas discriminados.Howard ganha dinheiro, fama e influência.


Resolvi assistir a cerca de quinze filmes de Woody Allen que ainda não havia visto. Nunca tinha ouvido falar deste aqui, e foi a minha melhor surpresa, sem dúvida nenhuma um dos melhores filmes do cineasta e o mais politizado. Vários atores da película foram realmente vítimas da Guerra Fria, dentre eles Zero Mostel, um espetáculo de ator que se destaca como um pobre comediante desesperado por recuperar o emprego na televisão e poder manter a família.

Fiquei surpreso com o grau de comprometimento de Allen neste filme. Comecei a assistir os seus filmes no final dos anos setenta, mas achava-o bem sem graça. Na década de oitenta passei a admirá-lo, mas considerava-o meio conveniente ao sistema, com suas críticas voltadas para a vida sentimental e passando ao largo de temas mais políticos, mais estruturais. Pensava: ou se trata de uma pessoa avessa à política (como frisava em suas entrevistas) ou que busca criticar sem romper a corda, sem cair no ostracismo da indústria cinematográfica.

O arredio e esperto Howard, um cara povão, nos brinda com um final surpreendente. Testa de ferro por acaso entra na minha lista top ten de Woody Allen.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

O Panótico é sortudo e Zizek faz o seu melhor documentário (341)



O guia pervertido da ideologia
(2012)

Eles vivem, de John Carpenter.

O nosso já conhecido e várias vezes comentado Slavoj Zizek é protagonista do melhor de tudo o que já fez em tela. Quem assistiu O guia pervertido do cinema e gostou provavelmente se deleitará com este Guia pervertido da ideologia. Quem ficou com um pé atrás com as simplificações psicanalíticas provavelmente constatará que sobre Ideologia o homem se encontra em casa e entende do riscado.


Nascido para Matar, de Kubrick.

Zizek mantém duas características na sua postura: o estilo meio profeta ansioso ou quase doidão (no documentário do Laibach ele gaguejava, aqui não pára de assoar o nariz) e quando não é convincente sobre alguma tese ousada ou insuficiente simplesmente muda de assunto (ao estilo de Jacques Derrida, uma influência notória e pouco assumida de Zizek). O seu forte e injustificável sotaque para quem vive nos EUA (toda palavra com w ele pronuncia como v) ajudam a personificá-lo como "sábio", o homem é ambicioso, já foi candidato a presidente da Eslovênia).


Seconds, de John Frankenheimer.


Independentemente disto (o único intelectual na vida a que poria a mão no fogo foi o filósofo político Norberto Bobbio, alguém que demonstrava por a+b o que afirmava), Zizek é criativo e observador. Há diversos filmes aqui que são adoráveis e/ou analisáveis: Laranja Mecânica, Noviça Rebelde, Brazil, Tubarões, Seconds, Tittanic, O Eterno Judeu, Zabriskie Point, A queda de Berlim, West Side Story, Taxi Dtiver, A última tentação de Cristo, etc. Mesmo quando Zizek "viaja" em suas afirmações não deixa de ser divertido ou curioso. Você sabia, por exemplo, que Fidel Castro, o último imperador das Américas, é fã de Tubarão, e o vê como símbolo das grandes corporações?!


A queda de Berlim, de algum pobre-coitado cineasta soviético a mando de Stálin.

Outro ponto positivo: aqui Zizek se afasta das suas últimas gracinhas em afagar Stálin, ao analisar os filmes soviéticos. 

Dá para dar uma aula de cinema (e ideologia, por óbvio, um conceito que traz dificuldades para os neófitos em ciências sociais) com este documentário.