Juiz de Fora

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Centro de Visitantes Trollstigen




















 
Este centro turístico fica a 850 metros de altitude na trilha Troll da Noruega.

Fiquei com preguiça de traduzir e resumir o texto explicativo e apelei para o Google Tradutor:

O edifício central do Centro de Visitantes possui um café e ponto de informação. Projetado para se parecer com as formas das montanhas circundantes, é formado a partir de duas conchas e construída em aço, vidro e concreto para lidar com o clima de montanha violento. As conchas dobrar em si para fornecer um abrigo com paredes de vidro com vistas espectaculares sobre a paisagem. Superfícies alternam entre ser tão bom como gelo e áspera como rochas, ecoando as formas complexas naturais da paisagem de montanha norueguesa do edifício.O outro edifício, contendo instalações de serviço, um quiosque e uma loja de souvenirs, é estruturado como uma muralha defensiva, agindo como uma barreira artificial para inundação quando o cristalino Rio Istra eleva com degelo durante a primavera. Na verdade, a água tem sido um elemento chave no projeto arquitetônico. Uma série de piscinas em degraus com os limites angulares que se expandem da superfície da água, ajudam a controlar o fluxo do rio em torno dos novos edifícios. "Grande parte da singularidade da cultura nórdica, e cultura norueguesa, em particular, é baseada em nossa relação com a água", diz Reiulf Ramstad. "No Trollstigen, a água pode ser experimentado como a neve nas montanhas, como um espelho brilhante, como uma cascata turbilhão, mas controlada ou como uma cachoeira dramática, tudo o que se reflete no projeto do Centro de Visitantes.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Os dez mandamentos do Bowienismo.



Os mandamentos são versos das seguintes canções de Bowie: 1. Heroes (1977); 2. Let's Dance (1983); 3. Changes (1973); 4. Space Oddity (1968); 5.Modern Love (1983); 6. Suffragette City (1973); 7. Golden Years (1976); 8, 9 e 10. Starman (1972);

terça-feira, 26 de junho de 2012

O Panótico vê aqui e agora (263)


Sombras da noite
(2012)



Barnabas Collins (Johnny Depp) é um inglês de Liverpool que migrou para o Maine, com a família, na segunda metade do século XVIII. O pai se tornou dono de uma cidade, e Barnabas alvo da paixão de uma bruxa francesa, Angelique Bouchard (Eva Green). Barnabas recusa o amor da bruxa por outra moça. A bruxa leva a rival ao suicídio, e transforma o protagonista em um vampiro. Ele continua negando a paixão da feiticeira que provoca a sua prisão, e sepultamento vivo e acorrentado.

Em 1972 Angelique é a grande empreiteira de Collinwood e uma de suas obras de incorporação liberta o vampiro do subsolo. Barnabas quer vingança e recuperar o prestígio do ramos dos Collins.



Sombras da Noite surpreendeu-me positivamente. Baseado em uma série de tv estadunidense dos anos sessenta, que não vi e nem ouvi falar, temos aqui mais um filme de Tim Burton com Johnny Depp. Assim que o filme começou, com as primeiras imagens e a trilha sonora bem representativa do início dos anos setenta, senti que iria gostar do filme. Embora se trate de uma comédia, é um pouco diferente do padrão antigo dos filmes de Tim Burton, o humor é mais baseado na crítica social do que na morbidez branda. Os atores são e estão ótimos, além dos citados há Helena Bonham-Carter, mulher de Burton, e Michelle Pfeiffer fazendo uma talentosa pirua.



O interessante do filme, além da ótima fotografia e narrativa, são as referências aos anos setenta. E Depp, é claro, fazendo um excelente vampiro, quase tão marcante quanto a sua atuação em A fantástica fábrica de chocolate. É uma situação invejável, a de Depp e de Tim Burton, fazendo o que gostam, filmes que escapam ao conceito de blockbusters e, mesmo assim, entupindo os cinemas, tinha gente sentada no corredor, eu não via isto desde O senhor dos anéis.

domingo, 24 de junho de 2012

O Panótico ouve aqui e agora (109)

Spinner
(Brian Eno & Jah Wobble/1995)

A minha angústia por não ter o que ouvir é fogo. Eu fico muito desanimado com o que fazem por aí. A MTV não serve para mais nada desde que acabaram com programas como Lado B e Amp, há uns dez anos ou mais. A revista New Music Express bate sempre na mesma tecla. A quase totalidade da juventude está interessada em música noturna. E os artistas, bem, os artistas são cada vez mais inseguros diante do mercado e comportam-se cada vez mais como adolescentes.

Então eu tenho que pesquisar nos meus próprios arquivos, e prestar atenção em obras que adquiri há algum tempo mas me desorganizei delas. Não ficarei aqui escrevendo sobre Brian Eno, já o fiz antes, e, ao contrário de trinta anos atrás, quando o ouvi pela primeira vez, quem está antenado em música de "vanguarda" sabe o fundamento teórico e idiossincrasias do trabalho dele. Jah Wobble foi baixista da Banda PIL, de Johnny Lydon, banda que fez um trabalho melhor do que o dos Sex Pistols. Este Spinner reúne composições de Brian Eno que ele teria utilizado em Blue, filme homenagem a Derek Jarman, que já assisti, mas não resenhei.

Spinner é bem dinâmico, bem envolvente, não chega a ser uma obra ambiental ou generativa de Brian Eno, está algo próximo de um jazz eletrônico. Bom, não dá descrever o que ouvi. Bem legal, não aborrece, anima, diverte, etc., e pode ser ouvido a qualquer tempo. Ah, óbvio, é todo instrumental, com forte presença de sintetizadores e do baixo de Wobble.

O Panótico vê aqui e agora (262)


Repulsa ao sexo
(1965)


Carol Ledoux (Catherine Deneuve) é uma manicure belga que mora com a irmã mais velha e ambas trabalham em um salão. Carol é tímida, não namora, é assediada por um tipo convencido e ouve suas idosas clientes falarem cobras e lagartos sobre os homens. Durante a noite, de seu quarto, Carol ouve a irmã se relacionar com um homem casado, um sujeito meio cafajeste que lhe belisca a bunda. A pobre moça, como o título indica, ou é muito reprimida, ou possui severo transtorno psiquiátrico. Quando a irmã viaja com o amante, a protagonista fica só no apartamento e começa a ter alucinações.



Resolvi assistir este filme por ter sido dirigido por Roman Polanski, seu segundo filme e primeiro em língua inglesa. Quase não reconheci Catherine Deneuve, com o que me pareceu uma peruca, e fiquei em dúvida se a atriz seria Sharon Tate. Gostei bastante do filme ter sido rodado em Londres, muito legal reconhecer certos lugares, mas com um trânsito tranquilo de cidade pequena, nem parece a mesma cidade da Beatlemania e da Swinging London. Deneuve está inexpressiva, bem, nunca me convenceram de que o sucesso dela vinha de seu talento dramático, e ficou mais bela alguns depois.



Assim que comecei a assistir fiquei com a impressão de que o filme descambaria para um psicologismo meio de araque, meio comédia, meio terror. Já apresenta a assinatura de Polanski, e o fato de Deneuve passar mais de meia hora com uma camisola transparente, sem lingerie, mostra muito mais sobre o diretor polonês do que qualquer função simbólica que algum crítico mais embasbacado possa encontrar. É bem visível que é apelativo, não mais. Uma referência me parece evidente: Psicose, e é também um prenúncio de O Inquilino, do mesmo Polanski, filme de que gostei muito quando o vi pela primeira vez, lá nos idos de '86, e o achei meio tolo, revendo-o algumas semanas atrás. De qualquer forma, e a julgar pela premiações, Repulsa ao sexo foi obra de impacto para a época.


sexta-feira, 22 de junho de 2012

A importância de ser "chato"



Outro dia me perguntaram qual é a "lei" brasileira mais "forte". Em termos apropriados, a pessoa queria saber qual é a norma jurídica mais efetiva em todo o ordenamento brasileiro. Eu respondi: é um artigo que não está escrito em nenhum lugar, nem na Constituição, mas entranhado na mente de cada brasileiro: a obrigação de ser "simpático". O brasileiro não se importa de levar vantagem em tudo (muito pelo contrário, ele muito assim o deseja), de sonegar impostos, jogar guimbas de cigarro e papel de bala no asfalto, estacionar em lugar proibido, falar bombasticamente no celular, avançar sinal vermelho, esquecer as luzes acesas na garagem do condomínio, etc., mas existe algo do qual ele não pode ser questionado: a sua simpatia. Para garantir ser reconhecido socialmente como uma pessoa simpática, o brasileiro abre mão, com muito gosto, de seus direitos. Em nome da simpatia você suporta tudo, pois, quer coisa mais "antipática" do que alguém que reclama? O reclamão não tem amigos, é um antipático, tem o péssimo hábito de ser sincero e autêntico diante das atitudes alheias, não vão lhe dar aumentos e promoções, não será convidado para festas, não vai "arrumar" ninguém e, oh, vai morrer "sozinho". O chato é um ser nefasto, sua chatura causa mais prejuízos do que muitos malufes.

Infelizmente, eu não tenho o dom da simpatia. Se alguém, por exemplo, vestido de verde e laranja, me perguntar se eu gostei do seu novo visual, eu posso deixar de dizer que ela ou ele se parece uma cenoura, mas não vou dizer que está ótimo (a). Mesmo se o fizer, os músculos da minha face irão me trair e avisar o (a) pobre coitado(a) que eu estou mentindo, mesmo. Eu não tenho escapatória.

Indo ao assunto: eu almoço em um restaurante chinês vegetariano que oferece diariamente trinta pratos por um preço bastante razoável, suco e chá incluídos. Este restaurante é frequentado por uma clientela que, obviamente, não é toda de vegetarianos como eu, mas é um público universitário, não só de jovens, e que representa parte da elite pensante e faturante de Juiz de Fora. Por diversos sinais característicos, desde vestimenta, linguagem corporal, vocabulário, temas, etc., posso afirmar que quase todos possuem curso superior. Pois bem, neste agradável local de repasto, há um único banheiro. Contra isso, pouco posso fazer. Mas, de dois meses para cá, este banheiro singular deixou de oferecer toalhas, de papel ou de pano, que seja. Fiquei pensando, como o Barão de Mauá, "ou faço eu, ou ninguém faz". Será que nenhuma destas senhoras elegantes se incomoda em secar as mãos curvando-se para pegar papel higiênico? Não é adequado, gruda nas mãos, não é higiênico!

Falei ontem ao proprietário do restô: no banheiro não há toalhas. -É mesmo? -É. -Ora, você foi o único que reclamou.

Voltei lá hoje, e, na entrada do banheiro, um porta-toalhas de papel instalado. O simpático proprietário me perguntou: "E aí, gostou? Nossa, que vergonha. Eu pensava nisto antes. Eu ficava enrola, enrola, e não colocava".

A minha vontade era sair passando de mesa em mesa e perguntando: gostou de poder secar as mãos com conforto? Dérreal, ou então reconheça diante de mim que os chatos são legais.

terça-feira, 19 de junho de 2012

O Panótico vê aqui e agora (261)




Prometheus
(2012)


No final do século XXI um megaempresário investe tubos de dinheiro em uma expedição a bilhões de quilômetros de distância da Terra. O objetivo aparente seria encontrar, em um sistema solar análogo ao nosso, e com atmosfera, nossos superiores ancestrais falantes de um idioma semelhante ao indoeuropeu de cerca de quatro ou cinco mil anos atrás. A comunicação teria por objetivo descobrir o sentido de nossa existência.


Eu fui ver Prometheus um pouco mais esperançoso após ler uma resenha em outro blog que dava um sinal positivo para este filme tão criticado. Em primeiro lugar, não é para adolescentes e nem um típico filme estadunidense (observe os sotaques britânico e irlandês de duas personagens), e a reação hostil dos idiotas presentes no cinema me comprovaram que não estavam entendendo nada. Afora um microdiálogo romântico e duas falas de cowboys, todo o restante do filme diz respeito aos fãs de ficção científica. Muito inspirado em 2001, clássico de Stanley Kubrick, e com algumas referências discretas a Blade Runner, cult dos cults de Ridley Scott, Prometheus é um filme inteligente, com cenários de H.R.Giger e efeitos especiais muito bonitos, que tem a ver com o filme, estão em harmonia estética e com a narrativa da obra, algo que dá gosto aos olhos e não se trata de infantilidades tecnológicas.


Nem preciso dizer que Michael Fassbender é mesmo o homem da hora, fazendo um andróide em busca de respostas. O meu único senão é a inserção, ou subordinação, da busca por um sentido da vida  vinculado ao cristianismo, estas questões dizem respeito a qualquer pessoa de qualquer fé, ou, até mesmo, mais ainda àqueles que não possuem nenhuma.

Embora eu não seja muito fã de continuações, saí do cinema apostando em um Prometheus 2 ainda mais interessante.

terça-feira, 12 de junho de 2012

O Panótico lê aqui e agora (29)





Há muito tempo que eu me pergunto por que nenhum jornalista se pôs a escrever uma bibliografia monumental sobre o mais importante presidente da história brasileira. Explico-me em três partes: eu disse jornalista e não historiador, por várias razões: as mais extensas e relevantes biografias brasileiras a que li não foram escritas por historiadores, mas por jornalistas. Historiadores têm um atitude blasé para com biografias, associam-nas ao positivismo, à escola de Annales e à Nova História. Consideram que biografias são microscópicas e não têm a relevância de temas  macroscópicos como revoluções, modos de produção, etc. Soma-se a isto a aversão generalizada ao ditador e chefe populista Getúlio Vargas, um desprezo por sua política caudilhista e de massas. Independentemente das críticas feitas ao populismo, ao getulismo e ao próprio Vargas, é preciso reconhecer que foi o líder político de maior impacto na história republicana brasileira, pois está associado a dois fatores de peso, irreversíveis: industrialização e voto urbano. Não estou aqui para analisar a sua política trabalhista, mas deixo ao leitor a seguinte questão: dê uma abridinha na CLT de 1943, tida pela historiografia oficial de esquerda como fascista, porque copiada em boa parte da Carta del Lavoro de Mussolini, e em seguida responda: quantos direitos trabalhistas foram criados nos últimos dez anos no Brasil, comparativamente aos anos trinta e quarenta?

Toda vez que algum aluno me pergunta: qual foi o melhor presidente do Brasil, eu, sinceramente não sei o que responder, porque os critérios éticos e administrativos de que suponho serem o meu norte para analisar chefes de Estado não parecem me levar a conclusões fáceis. Mas, assim como eu citaria Roosevelt, Kennedy e Jimmy Carter como grandes referências para o caso estadunidense, não tenho dúvidas que os longos dezoito anos de governo Vargas deixaram uma marca profunda no Estado e economia nacionais. A maioria dos seus críticos do movimento operário e das universidades públicas são seus filhos e netos políticos.

Bom, em três volumes esta dívida parece que será paga. Escrita pelo jornalista Lira Neto, este é o primeiro volume, lançado mês passado. Do mesmo autor eu li a biografia de Padre Cícero, excelente, e eu posso dizer que aprendo muito mais sobre História do Brasil em biografias como esta, do que em aborrecidas teses acadêmicas, feitas de encomenda para agradar orientadores e apetites partidários.

Não comecei a ler o livro, que acabei de ganhar. Este post será reeditado.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

O Panótico vê aqui e agora (260)



Um método perigoso
(2011)


Sabina Spielrein (Keira Knightley) é uma jovem judia russa aparentemente com graves transtornos psiquiátricos, internada pelo rico pai em uma instituição psiquiátrica em Zurique. Paciente do médico Carl G. Jung, que no início do século passado experimentava tratar os pacientes com terapia, sem recursos violentos ou medicação muito pesada, Sabina evolui positivamente e desenvolve uma paixão pelo seu analista. Paralelamente ao relacionamento com a paciente e aluna, Jung trava uma relação de subordinação e insubmissão a Freud (Viggo Mortensen). Jung vive em conflito com o próprio adultério, mas não consegue romper com a estabilidade de seu lar burguês.



Depois de ter assitido ao ótimo Jornada da Alma, já resenhado aqui, não estava muito disposto a ver um filme de David Cronenberg sobre o mesmo tema, dado que três galãs na capa me avisavam do risco de ser um xarope estadunidense. Mas valeu a pena. Este é o primeiro filme de Keira Knightley de que gosto, em que a moça vai além de ser uma sub-Natalie Portman, é mais do que um rostinho adolescente de Hollywood. Michael Fassbender é o ator da hora, e semana que vem estreia Prometheus, o cara está em todas desde Bastardos inglórios. Nunca achei Viggo Mortensen grande coisa e eu sempre recordo do Aragorn como um ator fraco, mas ele como Freud está ótimo, surpreendeu-me. E tem também a palhinha de Vincent Cassel, que quando não está no Rio dando umas bitocas na esposa la Belucci faz bons filmes, principalmente quando lhe dão papéis de marginalizados, aqui no caso o de um médico libidinoso paciente de Jung.




Comparativamente ao Jornada da Alma, percebi: os desacordos e restrições mútuas dos dois grandes pais da psicanálise estão mais em evidência, são tratados mais abertamente e mais sensacionalisticamente. Não tenho ideia o quanto de verossímel há nos diálogos e nas correspondências entre Freud e Jung que são exibidas na tela. O anterior filme italiano é mais profundo, você tem que perceber as nuances, as condutas são menos previsíveis, o espectador tem que pensar mais, a narrativa não lhe traduz tudo. Aqui a personagem de Spielrein como psicanalista é minimizada: nada há sobre o seu importante trabalho posterior na União Soviética. E há, a meu ver, algo inaceitável: aquela coisa de Áustria e Suíça sempre ensolaradas, algo tipo Noviça Rebelde ou Sissi, a imperatriz. Não cola.

O Panótico vê aqui e agora (259)




O que eu mais desejo
(2011)




Goichi é um garoto que vive com a mãe em Kagoshima, no extremo sul do Japão. O seu irmão, Riu, vive com o pai guitarrista em Fukuoka, a duas horas de trem ao norte de Kagoshima. Goichi sente saudades do irmão, mas é um menino bem integrado na escola e na sociedade. Ele e sua mãe são sustentados pelo avô aposentado. A mãe é professora primária desempregada e não quer trabalhar de caixa em supermercados com vergonha de ser reconhecida por ex-alunos (eu, hein?!). Riu arruma a casa e inclusive lava as suas roupas, deixa o café pronto antes de ir para a escola, e ainda sai com esta, ao ver o pai dorminhoco se levantando, na primeira cena que os vemos: "Tente dormir novamente", hahahaha. Lembrou-me bastante o impagável garoto Mao Xiaobing, de Electric Shadows.


 O pai, o primogênito Goichi, a mãe e Riu


A cidade de Kagoshima é próxima a um vulcão ativo, e volta e meia incomoda os moradores com suas cinzas. Logo no início do filme uma personagem questiona: como as pessoas podem morar próximo a um vulcão? Goichi torce para sua erupção, para que possa largar a cidade e reencontrar o irmão em Fukuoka. Um de seus colegas de escola afirma que quando dois trens passam um pelo outro em sentido contrário provocam tamanha energia que qualquer desejo humano pode ser realizado. Os meninos vão à estação da cidade tentar a experiência, mas não ficam frustrados porque um deles afirma: "e se isto acontece apenas com trens balas?", coisa que está para acontecer com uma nova linha para Kagoshima.



Eu gostei demais do tom leve do filme, sem aquele peso, disciplina, vergonha e culpa típicos dos filmes japoneses. A trilha sonora alegre combina bem com uma cidade razoavelmente arborizada. Não há aqui caricaturas de pessoas honradas e destemidas que só pensam em trabalhar. O quotidiano é light, cada um busca a satisfação de sua própria felicidade. As falas dos garotos são bem boladas, mas saem de suas bocas com naturalidade.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

O Panótico vê aqui e agora (258)




In darkness
(2011)


Lvov, Polônia, 1943. Leopold "Poldek" Socha e seu empregado Szczepeck são trabalhadores dos esgotos. Os dois se utilizam do sistema sanitário para eventualmente furtar residências. Em certa empreitada topam com um grupo de judeus escapando do extermínio do gueto de Lvov (Lviv, na Ucrânia do pós-guerra) Ele propõe guiá-los pelos esgotos e lhes providenciar refúgio em troca de pagamento extorsivo ou, se recusassem, os entregaria aos alemães. O grupo é numeroso e ele concorda em esconder apenas uma dúzia deles. Durante os quatorze meses seguintes, até a chegada dos russos, Poldek ajuda a mantê-los sob os esgotos. Inicialmente ele está lá apenas pela grana e enfrenta o desprezo de um dos líderes. Com o tempo ele passa realmente a sentir empatia pelo grupo.



Não vou aqui discutir sobre o papel de filmes sobre o Holocausto, já opinei sobre o tema neste e em outros blogues. Ao lado de Lista de Schindler, O pianista, Muito mais que um crime, este In darkness se encontra entre os melhores filmes sobre o tema. De todos me parece o menos melodramático, talvez aquele que trata da brutalidade extraordinária dos fatos e simultaneamente da forma com que o ser humano busca um amparo emocional mesmo em situações as mais extremas. Baseado em fatos reais, a partir do relato da garotinha sobrevivente, o protagonista Poldek é um herói por agir mesmo tendo dúvidas, não por ser destemido, mas por ser o herói das circunstâncias.



Dirigido por Agnieska Holland, de quem já vi O jardim secretoO segredo de Beethoven e alguns episódios da The wire.

My best loved 1982 rock albums (6)



Logos live
(Tangerine Dream)


Durante o início da década de oitenta eu aguardava, entre muitas outras coisas, o dia em que poderia entrar em lojas de discos de São Paulo ou Londres, e adquirir a coleção completa de bandas como o Tangerine Dream. Eu tive pleno acesso ao trabalho de grupos e pessoas como Kraftwerk, Vangelis, Jean Michel Jarre, e mais alguns da área eletrônica, mas na minha cabeça o melhor de todos era o grupo alemão. Por esta época eu sabia que o Tangerine Dream já havia lançado uns quinze discos, e eu tinha uma gravação de Rubycon e mais nada. Com a minha bolsa de mestrado aproveitei para comprar umas bolachas importadas, pois os cds importados tinham um custo proibitivo. Foi assim que adquiri Stratosfear, Ricochet, Cyclone, Phaedra, Poland, Exite, Zeit, Alpha Centauri, Force Majeure, Poland e Quichotte.  Também ouvi álbuns menores como Green Desert, Thief, Tangram e outros. Em 1989 saiu no Brasil o cd Optical Race, um dos primeiros da minha coleção de cds. E foi neste mesmo ano que ouvi Logos Live, que certamente não é a melhor obra do Tangerine Dream, no seu conjunto, mas é certamente o trabalho que eu mais ouvi.



Com o fundador Edgar Froese, mais Chris Franke e Johannes Schmoelling (em substituição a Peter Baumann, que, por sua vez, substituiu o prolífico Klaus Schultze), Logos live é uma gravação de parte de um show com material totalmente inédito até então, no cinema Dominion, no centro de Londres. Composto de três faixas (o show completo você ouve na série Tangerine Tree, já resenhada aqui), as duas últimas faixas fazem um eletrônico bem anos oitenta, meio quadradinho, bem cinematográfico ou até televisivo, razão pela qual não acho este disco o melhor do grupo, sou mais Rubycon, Ricochet  ou Cyclone. Em compensação, a faixa inicial, uma suíte de quase trinta minutos, me traz profunda alegria. Os cinco minutos do ápice do tema, a partir de vinte minutos de execução, a sua imponência, o seu lirismo, o tom épico de um certo triunfalismo humanista, a ótima combinação de uma melodia inteligente, mas também simples, a harmonia de diversos fraseados em um belo conjunto, bem, só ouvindo para entender. É destes momentos que a música me parece a mais interessante das artes, a mais envolvente, a que mais me traz felicidade.


My best loved 1972 rock albums (6)





Lá pelos idos de 1974 eu assisti no programa Hebe Camargo (perdoe-me, eu era uma criança) a apresentação de um pianista brega e cantor francês Demis Roussos. Como era do agrado das tias, não dei atenção. Em 1979 conheci o trabalho de Vangelis, tecladista grego de quem possuo dezenas de álbuns, gosto muito e é um caso raro de artista muito íntegro e fiel a princípios. Em 1982 vi e ouvi o álbum importado 666, do Aphrodite's Child, banda formada pelos gregos Roussos (vocal e baixo), Vangelis (teclados), o baterista Loukas Sideras, e o guitarrista Silver Koulouris, (sobre estes dois últimos nunca mais vi nada).


Vangelis, Roussos e Sideras
666 é um número fantasioso para quem ainda é jovem, pedi o disco emprestado, gravei-o em partes em uma única fita (ê, pobreza) e fiquei na esperança de um dia ter o álbum ou o cd, o que somente aconteceu há uns dez anos atrás.

Como álbum duplo de rock progressivo, a obra é temática e o objeto é evidente. Nunca li as letras, apenas o pouco que peguei de ouvido. Sabia que a banda grega não podia ir muito longe, e jamais se comparou aos ingleses. Mas é um disco que tem muitas qualidades. Instrumentalmente rico, com a voz diferenciada de Roussos, sem resvalar para a breguice posterior, é possível acompanhar com interesse a evolução épica do trabalho.

O primeiro cd começa bem. The system é um coral tipo bando de jovens seguem o seu deus, e Babylon é um rock básico, bem legal, com voz sinuosa e baixo sinuante, que nos liberta da procissão anterior. Loud Loud Loud é um piano com uma voz feminina, seguida de coral de fundo, introduzindo a narrativa. The four horsemen é disparada a minha preferida, sobre os quatro cavaleiros do apocalipse, gosto de tudo aqui, e o refrão colou rápido na minha mente. The lamb  é uma faixa instrumental com uma tonalidade arabesca, sem ser tribal ou folclórica, ainda é rock progressivo. The seven seal traz um narrador e cordas diversas de fundo. Aegian Sea é bem o que Vangelis faria se tivesse uma banda de suporte pela carreira afora, é uma faixa bem Pink Floyd. Seven Bowls é um povo rezando para o Demo, bem chato, sempre pulei, e vou fazê-lo novamente gaora. The wakening beast, uns sininhos, nada demais. Lament me remete à morte de Heitor no filme Troia. As seis ou sete faixas seguintes não são do meu agrado e parece que o disco se perdeu por um bom tempo.


O segundo cd é bem mais instrumental do que o anterior. Eu gosto da orientalizante The wedding of the lamb e da jazzística Capture of the Beast. Entra em cena Irene Papas na faixa que tem o símbolo matemático do infinito. Hic et Nunc é faixa para plateia, tipo Tommy do The Who. O quente do segundo cd é a suíte All the seats were occupied, vibrante, minha segunda preferida do álbum, talvez a melhor para os fãs tradicionais de progressivo. Break é o grand finale (na verdade é mais um petit finale) e fico feliz de poder ouvir novamente um disco de quarenta anos com grande prazer. Música boa é eterna.